Um partido sob a influência do Estado, por Edizio Nunes
Dia 10 de de fevereiro o PT completa 35 anos e é a melhor e maior experiência partidária dos trabalhadores brasileiros. Na história da República, em especial no século XX, o PCB, fundado em 1922, depois com o racha da década de 60, dando origem ao PC do B, teve forte ligação com a classe trabalhadora, tendo inclusive em 45 candidato a presidente, mas num período curto e sem caráter de massa.
O PTB e Getúlio tiveram grande apelo de massa, mas com caráter populista. O golpe de 64 esmaga os partidos e organizações dos trabalhadores. E o PT surge na década de 80, como a grande novidade no cenário político. Um partido de trabalhadores, de esquerda, de inspiração socialista, mas sem se reinvidicar marxista-leninista, nem ter a URSS, Albania ou qualquer outro modelo existente como referência.
A idéia era de um partido que dialogasse com a realidade brasileira, com sua formação social. E mais: sem “centralismo democrático”, plural, direito de tendências e organizado em núcleos de base. O PT surgia como partido de um novo tipo para ser o protótipo do tipo de sociedade que queríamos: democrática, plural e inclusiva. Nesse processo o PT protagonizou as principais lutas por direitos e democracia no país, que se consagrou na Carta Constitucional de 1988.
As greves gerais, as lutas do MST no campo, o movimento de desempregados, as lutas estudantis, mulheres, negros, lgbts tinham a cara do PT e suas bandeiras vermelhas. Em 1989, setores do empresariado ameaçaram deixar o Brasil se Lula fosse eleito. Desde Joao Goulart, que a direita brasileira nunca se sentia tão incomodada com um partido como se sente com o PT. Em 2003 com a vitória de Lula, eles diziam que não conseguiríamos governar, pois os trabalhadores seriam incompetentes e não tinham formação acadêmica. Em 12 anos de governos realizamos uma verdadeira revolução democrática no Brasil: incluimos milhões de brasileiros ao mercado de consumo, consolidamos o Estado Democrático de Direito e os instrumentos de fiscalização e controle, ampliamos a participação popular, distribuimos renda e riqueza, mudamos o perfil de classe, aumentando a classe média, ampliamos a oferta de vagas nas universidades aos mais pobres, reduzimos drasticamente o desemprego e o país cresceu e”dividiu o bolo.
Em 2014 reelegemos a presidenta Dilma, num quadro de dificuldades econômicas no mundo, e que afetou em menor escala o Brasil, gracas a nossa política de investimentos no mercado interno, controle de juros e da inflação. Além de uma grande mídia conservadora e controlada por famílias ligadas aos grandes grupos econômicos que tem preconceito com nossso projeto e ódio de classe do PT. Mas foi a militância e povo simples e trabalhador que na hora não teve dúvidas e garantiu a vitória de nosso projeto. E é a essa maioria que não devemos faltar, com todas as concessões que são necessárias num presidencialismo de coalizão.
Nesses 35 anos, ao conquistar governos e ocupar espaços no Estado burguês: presidência da República, governos estaduais, municipais e parlamento, sofremos a influência do Estado, na acepção política do termo, seus vícios e deformações. E nos afastamos da nossa base social, ate porque uma parcela destes dirigentes hoje estão na máquina estatal. E é nesse ponto crucial que nos encontramos: nos reinventar e fazer um processo de autocrítica ou se adaptar à ordem e acomodar-nos nos gabinetes refrigerados. E não se trata de uma crítica esquerdista a quem está assumindo funções burocraticas, essenciais para nós, mas para a gente nunca esquecer de onde vinhemos e porque fundamos o PT e quais são seus objetivos históricos.
Neste 10 de fevereiro, precisamos refletir para onde queremos ir e com quem, tal como um jovem que completa 35 anos e tem de definir o que quer da vida. Acredito sempre na capacidade do PT se revolucionar e se reinventar, se recriar como principal instrumento de luta do nosso povo, assim como a esquerda no mundo está fazendo, em especial na Grécia com Syriza e o podemos na Espanha. Viva o PT, Viva os trabalhadores.
* José Edizio Nunes é advogado e militante histórico do PT.